Cheguei na frente junto com a Gi, minha esposa, o Villy e a Carol.
Acertado as inadequadas, mas devidas burocracias, passamos a observar o local aguardando a despedida.
Jamais imaginei que seriam as mais longas horas de minha vida.
Em seguida chegou o rabecão e os preparativos finais. Quando o salão se abriu, rompi com protocolos. O ambiente, diferente de outros funerais transmitia serenidade.
Luzes em meio tom naquela sala de cor cru, bancos individuais em couro, um painel de cachoeira com uma cascata emitia o som de águas tranquilas, junto com uma projeção de paisagens exuberantes e a música suave dava ao ambiente o clima de poesia.
Meus apressados passos foram ralentando, e aproximei-me da urna que destacada por um foco de luz impunha reverência.
Quando olhei a face do poeta foi como levar um soco no peito. Uma dor profunda disparou o coração e transformou meus olhos em fonte, minha respiração em soluços e minhas palavras em gemidos.
O chão sumiu. Mas algo bateu forte no peito. A vida!
Ele era tão cheio de vitalidade, tão hábil em transformar momentos difíceis em risos, que cheguei a ter a sensação de que ele ainda vivia. Que ainda se movia. Foi quando me lembrei que sim.
Vivia em outros que guardam suas canções na alma, naqueles que receberam seus órgãos doados e noutros que como eu, conviveram com ele e foram marcados pelo seu brilho.
Mas por um momento aquele ambiente sereno e sagrado foi transgredido. Terrível!
Porém, o Léo pegou um violão e num gesto bem típico, começou a cantar Maranata e se retomou o jeitão do poeta e neste gesto ficou mais claro ainda que ele se foi, mas permanecerá.
Suas amigas da faculdade, como quem também compreenderam como ele era, completaram com poesia. E assim um por vez, fez sua última homenagem.
O mais incrível e não proposital foi o fato das cortinas azuis que rodeavam a urna funerária lentamente baixarem, encerrando assim o cerimonial ao som das vozes cantando: Senhor tu me sondas.
Isto foi um pouco daquilo que aconteceu naquele momento mais absurdo e incoerente que a vida às vezes apresenta: interromper os mais belos sonhos.
Pena...muita pena!
Eliel Batista
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