sábado, 31 de agosto de 2013

A sociedade descartável



Lembro de um tempo em que procurávamos uma loja de assistência técnica quando algum dos nossos aparelhos eletrônicos deixava de funcionar. O tempo passou e com o avanço tecnológico o preço de muitos objetos sofreu uma drástica redução, bem como a qualidade de cada um deles diminuiu na mesma medida. Dessa forma, começamos a perceber que quando um aparelho eletrônico apresenta um defeito é mais interessante jogá-lo fora, DESCARTÁ-LO,  e comprar um novo, do que enviá-lo ao conserto.

Como estão os nossos relacionamentos? Em que eles se baseiam? Será que da mesma forma que agimos com alguns aparelhos eletrônicos que dão defeito, assim também estamos agindo com as pessoas? Seria correto concluir que os nossos relacionamentos são descartáveis?

Ao que parece acontecer na prática, inclusive nas nossas instituições eclesiásticas, é que as pessoas só têm valor enquanto elas dispõem de algo que possa ser útil, ou pelo menos quando elas sabem se comportar de maneira subserviente, jamais questionando ou criticando, comportando-se como o gado obediente que segue o vaqueiro instintiva e docilmente.

Em toda estrutura de poder que opta por se preocupar mais consigo mesma e menos com as pessoas, a forma de agir é sempre a mesma, isto é, para não perder o "bando" é melhor punir aquele que se "insurgiu". Joga-se o rebelde às feras e a vida continua como se não tivesse acontecido nada.

Há uma grande incoerência nisso tudo, pois se o Evangelho oferece a cura, a possibilidade do resgate, por que as nossas igrejas, às vezes, estão deixando as pessoas cada vez mais doentes ou descartam facilmente pelo caminho alguém que aparentemente não segue a cartilha proposta?

No mito da caverna, o prisioneiro que conseguiu se livrar das correntes sai e percebe que existe um mundo que é incomparavelmente diferente daquele mundo de sombras que antes ele vivenciava. Depois ele decide retornar para avisar os seus amigos, mas os demais prisioneiros preferem não acreditar no que ele disse, pois eles estavam tão acostumados àquela forma deplorável de vida que não julgavam ser possível existir algo diferente.

Muitas vezes agimos não muito diferente dessa história. Vivemos aprisionados dentro de uma visão limitada e distorcida e quando alguém diz algo diferente nós julgamos, sentenciamos, condenados, apontamos falhas, perseguimos essas pessoas... Onde está a diferença entre nós e aqueles a quem nós dizemos que não conhecem a Deus?

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