domingo, 25 de agosto de 2013

Verás que um filho teu não foge à luta



Não tenho dificuldade de me submeter à autoridade. Não sou defensor de uma estrutura anárquica. Sei que o princípio de autoridade é fundamental na estrutura de qualquer organização social, seja uma nação, uma cidade, uma empresa, uma igreja, uma escola ou uma família. Mas também sei que qualquer estrutura tende a gerar um sistema danoso, que se torna naturalmente alvo de críticas, quando coloca a organização ou o poder acima das relações pessoais. Devemos nos preocupar mais com pessoas e menos com projetos. Devemos refletir bastante antes de tomar decisões, principalmente quando essas decisões vão interferir na vida de outras pessoas.

Portanto, criticar a atitude de quem está no poder não pode ser confundido com não conseguir se submeter ao poder. Há uma diferença significativa entre o indivíduo que está no poder, e o poder propriamente dito. Quem está no poder recebe uma delegação, direta ou indireta, de ser o representante de todo o grupo. Ele passa a ser o representante legal do poder, que é de todos, contudo ele mesmo não é o poder. Dessa forma, ao criticar uma atitude de alguém que ocupa um cargo de represente de um grupo ou de uma categoria, não é o grupo que está sendo questionado, assim sendo, não há uma insurreição ao poder, ao contrário, existe aí a legítima ação da liberdade de expressão e da possibilidade do contraditório, em virtude do fato de que não há nenhum indivíduo sequer que não possa ser passível de cometer erros, de tomar decisões equivocadas, mesmo que a sua intenção não tenha sido essa.

Hoje todos nós escutamos as vozes insatisfeitas nas ruas. Vozes que questionam o sistema, até porque não vai adiantar muito mudar as pessoas que estão no poder se o sistema corrupto que nós temos no Brasil não for alterado drasticamente. Essas vozes clamam por mudanças. Mudanças nas atitudes e ações do poder governamental. Mas mesmo que o governo mude, bem como o sistema que o sustenta, temos que entender que todos nós precisamos também mudar. Mudar a ideia do “jeitinho brasileiro”, mudar a ideia da “lei de Gérson”, em que nos acostumamos a sempre querer levar vantagem diante do outro. Precisamos aprender a votar, aprender a manter a cidade limpa, a respeitar as filas, a oferecer o assento no ônibus, no trem ou no metrô aos idosos, deficientes e gestantes, precisamos cuidar melhor das nossas crianças e dos animais. Na verdade, nós precisamos nos refazer, nos reconstruir, e precisamos descobrir o real sentido do que vem a ser o conceito de cidadania.

Paralelo a esse momento único na história do nosso país quero externar o meu desejo de que as nossas organizações eclesiásticas também possam se repensar. Que as nossas igrejas lembrem-se do lema dos reformadores: “Uma igreja reformada, sempre se reformando”. Nos últimos anos a minha igreja tem passado por inúmeras crises. Crises essas que abalaram as estruturas de uma igreja que já tem mais de trinta anos de uma bela história na capital alencarina, bem como em várias outras cidades do Brasil. Como esquecer o que aconteceu em 2007 quando pretensamente por questões doutrinárias vimos o nosso grupo de amigos e irmãos se dividir de forma tão dolorosa. É claro que não havia uma preocupação com as tais questões doutrinárias, era evidente uma luta pelo poder. Confesso que depois desse momento e de ver o nosso líder enfraquecido em virtude de tantos ataques sofridos, eu pensei que a nossa igreja ia procurar trilhar um caminho bem diferente, mas hoje eu vejo, com uma tristeza na alma, que não aprendemos muito com os nossos erros.

Dessa forma, precisamos repensar a nossa igreja. Se de um lado eu considero que ela tem uma visão extraordinária em relação ao Reino de Deus, ainda pecamos por não conseguir resolver problemas na estrutura das nossas relações. Precisamos, portanto, aprender a ouvir o outro, precisamos de um colegiado de líderes fortalecido, para que não fiquemos na dependência das decisões por parte de uma só voz, ou de poucas vozes que estão ao lado do poder. Eu ainda sonho que as nossas vozes servirão para que mudanças possam se tornar realidade. Se o fato de eu ter tido a coragem de ser uma dessas vozes comprometer o meu futuro nessa igreja, me darei por satisfeito se os meus companheiros conseguirem colher frutos de uma igreja diferente. Falo publicamente aquilo que alguns só têm a coragem de falar nos bastidores. Corro o risco da guilhotina, mas estou em paz com a minha consciência.

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